OM MANI PADME HUM, e a compreensão do Dalai Lama e do Budismo Tibetano

Texto de 28/01/2008

Existe um certo encantamento quanto ao Budismo Tibetano e sua principal figura, Sua Santidade o Dalai Lama. Muito se fala, se escreve a respeito. É importante que verifiquemos sempre as referências do que está se lendo ou ouvindo. Pessoalmente, já vi lamas (professores), vestidos de tibetano, ministrando ensinamentos sem autorização, e com versões pessoais, e enganosas sobre a filosofia budista.
Lembro, em sua última visita ao Brasil, de como o Dalai Lama comentou sobre o fato de ser engraçado ver ocidentais, tentando se vestir como orientais. Salientou que a única exceção seriam os monges, pois tem uma tradição a seguir.
Outro exemplo disto é o entendimento do mantra OM MANI PADME HUM, principal mantra do povo tibetano, que já pude ver com as mais diversas e esquisitas explicações.
Para dar uma orientação adequada sobre isso, traduzi, direto do site do governo tibetano, um texto de Sua Santidade, explicando como compreender da forma mais adequada este mantra.

Este texto pode servir também, de material básico de estudo sobre meditação, ou budismo, pois o Dalai Lama aborda muitas aspectos nesta explicação.Desta maneira, espero estar servindo da melhor forma para manter claro e valioso os ensinamentos de Sua Santidade, e também, do Budismo Tibetano.

Tashi Delek

Vitor Caruso Jr.

OM MANI PADME HUM

Por Sua Santidade o Dalai Lama.

É muito bom recitar o mantra OM MANI PADME HUM, mas enquanto você o está fazendo, deve estar pensando em seu significado, pois o significado destas seis sílabas é grandioso e vasto. A primeira, OM, é composta de três letras, A, U e M. Estas simbolizam as impurezas do praticante de corpo, fala e mente; eles também simbolizam o glorioso corpo, fala e mente do Buda.

Pode o corpo, fala e mente serem transformados em corpo, fala e mente puros ou eles são totalmente separados? Todos os Budas são casos de seres que eram como nós e que na dependência do caminho se tornaram iluminados; o Budismo não afirma que alguém está livre desde o começo, livre de falhas, e possui apenas boas qualidades. O desenvolvimento de corpo, fala e mente puros vêm de gradualmente deixarmos os estados impuros de modo árido, e transformá-los em puros.

Como isto é feito? O caminho é indicado pelas próximas quatro sílabas. MANI, que significa jóia, simboliza os fatores do método – a intenção altruísta para tornar-se iluminado, compassivo e amoroso. Assim como uma jóia é capaz de remover a pobreza, ou dificuldades, da existência cíclica e da paz solitária. Similarmente, como uma jóia preenche os desejos dos seres sencientes, assim é a intenção altruísta de se tornar iluminado para satisfazer as aspirações de todos os seres.

As duas sílabas, PADME, significam lótus, simbolizam sabedoria. Assim como um lótus cresce do lodo, mas não é sujo pelas falhas do lodo, assim a sabedoria é capaz de colocar você em uma situação de não-contradição, onde haveria contradição caso você não tivesse sabedoria.
Há a sabedoria que reconhece a impermanência, sabedoria que reconhece a vacuidade nas pessoas, de ser auto-suficiente ou existente por si, sabedoria que reconhece a vacuidade da dualidade – que é o mesmo que dizer, da diferença de entidade entre sujeito e objeto – e sabedoria que reconhece a vacuidade da existência inerente. Apesar de haver muitos diferentes tipos de sabedoria, a principal é a sabedoria que reconhece a vacuidade.

A pureza deve ser atinginda por uma indivisível unidade entre método e sabedoria, simbolizado na sílaba final HUM, que indica indivisibilidade.

De acordo com os sistemas dos sutras, esta indivisibilidade de método e sabedoria se referem à sabedoria afetada pelo método e o método afetado pela sabedoria. No mantra, ou veículo tântrico, se refere à consciência única na qual a forma completa de ambos, sabedoria e método como uma entidade indifirenciável. Nos termos das sílabas sementes dos 5 Budas Conquistadores, HUM é a sílaba de Akshobya – o imutábel, não-flutuante, que não pode ser perturbado por nada.
Assim, as seis sílabas, OM MANI PADME HUM, significam que na dependência da prática do caminho, que é a indivisível união do método e sabedoria, você pode transformar a impureza de corpo, fala e mente em um glorioso e puro corpo, fala e mente de um Buda.
É dito que você não pode procurar pela Budeidade fora de você mesmo, as substâncias para alcançar a Budeidade são internas. Como Maitreya disse no “Contínuo Sublime do Grande Veículo” (Uttaratantra), todos os seres tem naturalmente a natureza de Buda em seu próprio contínuo. Nós temos dentro de nós as sementes de pureza, a essência “Daquele que Alcançou” (Tathagatagarbha), que é ser transformado e ter se desenvolvido plenamente na Budeidade.
Traduzido por Vitor Caruso Jr. De texto do Dalai Lama, no site do “The Office of Tibet”: www.tibet.com