Entrevista com Sister Chan Khong

Sister Chan Khong

Tentamos uma entrevista exclusiva com Thay, o que já nos avisaram que seria bem difícil. Como o retiro na Inglaterra era curto e intenso, ele não gostaria de se envolver com entrevistas no meio das atividades, assim, seu braço direito, irmã Chan Khong nos atendeu atenciosa e generosamente. Conversamos sobre vários assuntos, e histórias antigas de Thay, uma vez que ela o acompanha desde 1965, faço aqui um resumo dos trechos mais interessantes:

“Thomas Merton era um mestre zen, um pessoa muito livre, ele encontrou TNH duas vezes, em uma destas vezes ele viu TNH abrindo e fechando a porta da sala, de uma forma muito profunda, com base nisto que escreve que ele era um verdadeiro monge. Houve uma norte-americana que foi até a França para conhecer TNH, só para ver ele abrir a porta. (risos) Ela nos contou isto só no final do retiro.”

“Martin Luther King escutou uma fala de TNH sobre como a guerra era um dano para os direitos humanos, e que não havia separação entre os direitos humanos dos vietnamitas, ou dos negros americanos, eram todos humanos. Isto tocou profundamente MLK, que passou a defender uma posição contrária à Guerra do Vietnã. Muitos diziam para ele desistir deste assunto, que não lhe dizia respeito como afro-americano. Mas convencido por Thay, ele abraçou a causa da paz, e este foi um dos motivos que fez com que MLK indicasse Thay para o prêmio Nobel da Paz. Semanas antes de MLK ser baleado, Thay teve tempo de agradecê-lo dizendo que ele era um bodisatva (ser iluminado) para o povo do Vietnã.”

“É preciso tocar a paz em você, o Budismo era muito conservador, precisava renovar-se. Como podemos viver o Budismo sem ética?O Budismo deve ser engajado, engajado com a vida, com as crianças, com a família.”

“Muitos alunos de Thay são professores de yoga, eles compreendem que só o trabalho de corpo não purifica suas mentes. Yoga é similar ao Kunf Fu. Kung Fu não é na verdade uma arte marcial, Kung Fu é uma prática regular, feita com disciplina, isto também se aplica ao yoga. E esta sua prática pode se estender ao andar e falar de forma consciente.”

“Lembro da visita ao Brasil, deve ter sido em 1989, foi Odete Lara que nos ajudou pois havia conhecido Thay na Califórnia, ela havia traduzido um livro de Thay para o português. Thay aprendeu sobre a grande diferença social que existe no Brasil, em sua apresentação no Rio havia poucas pessoas, com boa condição social, então pediu que fosse diferente em Belo Horizonte, pois queria conhecer um pouco mais sobre o Brasil de verdade. Lá ele se apresentou para mais pessoas.

Ainda sobre o Brasil, me lembro que em 1975 recebemos um doação para ajudar crianças em situação difícil no Vietnã, mas com o decorrer do processo político por lá, o dinheiro recebido ficou bloqueado na Holanda, então Thay fez uma doação de boa parte deste valor para os trabalhos de Dom Helder Camara no Brasil”