Desde criança busquei respostas na espiritualidade, mas confesso que foi um caminho sem muito sucesso no início. Estudei em colégio de freiras por 11 anos, mas a religiosidade era passada de forma repressora, não culpo às queridas e adoráveis “irmãs”, pois sinto que assim receberam sua educação religiosa também. Lembro que quando criança, fui várias vezes sozinho à missa, nos domingos de manhã, gostava da parte que todos se cumprimentavam e diziam “Na Paz de Cristo”.
Ao estudar, no que na época era chamado de colegial, recebi a influência do materialismo científico, ou seja, aprendi a idéia de que o atraso da ciência se deve aos anos de repressão da Igreja sobre os pensadores.
Isto acabou por fazer calar minha busca espiritual por alguns anos, pois os abusos da Igreja não foram poucos.
Quem pela primeira vez me falou dos padres do deserto, foi um abade de um mosteiro beneditino, Dom André.
Eu já era aluno de mestres budistas, na época.
Ao buscar mais informações, encontrei ensinamentos extremamente profundos, e detalhes da história do cristianismo que passam desconhecidos a maioria dos cristãos.
Em primeiro lugar, no séc. III o cristianismo se torna a religião oficial do Império, e que neste processo, até a forma como os Evangelhos são escritos e interpretados sofrem forte influência desta estrutura de poder.
Isto cria um descontentamento com alguns seguidores dos ensinamentos Cristãos, pois discordava frontalmente com ensinamentos de Jesus, por exemplo, o evangelho de Marcos (10, 21): “Vai, vende tudo que tens, distribui o dinheiro aos pobres e terás um tesouro duradouro no céu; então, vem e segue-me”.
Nesta busca de seguir o evangelho de forma mais autêntica, Antão, (Nos tempos de Antão), se afasta e busca vencer os demônios de seu inconsciente, suas intranqüilidades que lhe afastavam de Deus, e dizia-se dele, após seu período de reclusão e vitória em relação aos seus venenos pessoais: “Não precisou lutar com o riso e a timidez. Ao ver a multidão, não ficava perturbado e, quando tantas pessoas o saudavam, ele não se alegrava, mas ficava perfeitamente igual a si mesmo.”
Esta mesma busca de perfeição equânime se encontra na prática budista, e nos ensinamentos de Buda, que ensina que todos os seres também fazem parte do Caminho, que semelhança enorme com os ensinamentos de Francisco de Assis, o louvar à natureza e no Cântico do Irmão Sol, chama até a morte de irmã, observando todos os fenômenos como manifestação de Deus
Aprendi em palestra de Leonardo Boff, isto é pananteísmo, ou seja, todas coisas e fenômenos são manifestação de Deus, este mesmo Deus que está presente no choro, quando Jesus chora a morte do amigo Lázaro, ou na ira que se manifesta na porta do templo, onde a fé é mercantilizada. (Diferente de panteísmo)
Gandhi, em sua autobiografia, demonstrou várias vezes a tristeza com os Cristãos, pois estes falavam muito de Jesus, mas poucos se comportavam de acordo. Acredito que Gandhi tenha sido um dos maiores exemplos de como ser Cristão, e talvez as meditações contemplativas de Francisco de Assis, e as meditações dos padres do deserto sejam um exemplo de uma prática que nos remeta diretamente ao verdadeiro ensinamento de Jesus, e também do Buda.